sábado, 4 de setembro de 2010

a política

Marco Aurélio Nogueira, cientista político paulista, autor do indispensável “Potência, limites e seduções do poder”, no caminho deixado pela tradição gramsciana de valorização da política, afirma...

Há muito combustível para que se adote um modo não-político de fazer política. Quando, por exemplo, o diálogo democrático é substituído pela intimidação, pela desfaçatez ou pela afronta aos “bons modos”, a política vai para o espaço. Quando a política é praticada como se fosse um happeningou um show que, a cada três ou quatro anos, agita as energias comunitárias mas não se faz acompanhar de nenhuma forma de mobilização permanente e de nenhuma iniciativa educacional, estamos longe da política. Uma atitude que compensa a letargia cotidiana com espasmos de combatividade “incendiária” só contribui para afastar as pessoas da política. [...] o único antídoto é a recuperação plena da face generosa da política. Não é o virar as costas para a política, mas sim recepcioná-la de braços e mentes abertos para então, em nome dela e com os recursos dela, enfrentarmos aqueles que pregam a ação contra a discussão, a veemência contra a ponderação. Pode ser um caminho longo. Fora dele, restará apenas, na melhor das hipóteses, a mesma velha e desbotada rotina dos atos e das palavras que não empolgam” (Nogueira, 2007, p. 124, 125).